
Ontem à noite,já deitada, Catarina lia em voz alta para eu ouvir (nestas idades já é ao contrário!):
"Melinda não perguntou nada mas começou a sentir que alguma coisa estranha tinha acontecido.
Mal tocou no almoço e sempre que perguntava pela avó Rosário (!!!) logo a vizinha Eulália lhe respondia:
_ Ai que menina perguntadeira!.............................Vá brincar, vá brincar que a avó não tarda.
Mas a avó tardava.
Mas a avó tardou.
Muito.
E Melinda não fez mais perguntas.
Nem sequer quando a noite chegou e a avó Rosário não veio.
Nem sequer quando o pai apareceu em casa, tarde,a barba por fazer e uma gravata preta que Melinda nunca lhe tinha visto.
Nem sequer quando ele a olhou durante muitotempo e lhe fez festas no cabelo claro, e a teve ao colo mais tempo do que era costume.
Nem sequer quando a cama da avó Rosário ficou por abrir nessa noite. E na outra, e na outra,e na outra.
Nem sequer."
Nessa altura tinha já um nó na garganta e qualquer coisa nos olhos mas olhei para a minha neta que continuava serenamente a ler e pensei:
COMO É BOM SER CRIANÇA!