quarta-feira, novembro 08, 2006

Português

Neste dia cinzento, deixo-vos uma mensagem que recebi por e-mail...

Assunto: Redacção

Redacção feita por uma aluna de Letras, que obteve a vitória num concurso interno promovido pelo professor da cadeira de Gramática PortuguesaLíngua Portuguesa...

Era a terceira vez que aquele substantivo e aquele artigo se encontravam no elevador.

Um substantivo masculino, com aspecto plural e alguns anos bem vividos pelas preposições da vida. O artigo, era bem definido, feminino, singular.

Ela eraainda novinha, mas com um maravilhoso predicado nominal.
Era ingénua,silábica, um pouco átona, um pouco ao contrário dele, que era um sujeitooculto, com todos os vícios de linguagem, fanático por leituras e filmesortográficos.

O substantivo até gostou daquela situação; os dois, sozinhos, naquele lugar sem ninguém a ver nem ouvir.
E sem perder a oportunidade, começou ainsinuar-se, a perguntar, conversar.
O artigo feminino deixou as reticênciasde lado e permitiu-lhe esse pequeno índice.
De repente, o elevador pára, só com os dois lá dentro.Óptimo, pensou o substantivo; mais um bom motivo para provocar algunssinónimos.
Pouco tempo depois, já estavam bem entre parênteses, quando oelevador recomeçou a movimentar-se.
Só que em vez de descer, sobe e pára exactamente no andar do substantivo.
Ele usou de toda a sua flexão verbal, e entrou com ela no seu aposento.

Ligou o fonema e ficaram alguns instantes em silêncio, ouvindo uma fonéticaclássica, suave e relaxante. Prepararam uma sintaxe dupla para ele e um hiato com gelo para ela.

Ficaram a conversar, sentados num vocativo, quando ele recomeçou ainsinuar-se.
Ela foi deixando, ele foi usando o seu forte adjunto adverbial,e rapidamente chegaram a um imperativo.Todos os vocábulos diziam que iriam terminar num transitivo directo.Começaram a aproximar-se, ela tremendo de vocabulário e ele sentindo o seuditongo crescente.
Abraçaram-se, numa pontuação tão minúscula, que nem umperíodo simples, passaria entre os dois. Estavam nessa ênclise quando elaconfessou que ainda era vírgula.Ele não perdeu o ritmo e sugeriu-lhe que ela lhe soletrasse no seuapóstrofo. É claro que ela se deixou levar por essas palavras, pois estavatotalmente oxítona às vontades dele e foram para o comum de dois géneros.Ela, totalmente voz passiva. Ele, completamente voz activa.

Entre beijos,carícias, parónimos e substantivos, ele foi avançando cada vez mais.Ficaram uns minutos nessa próclise e ele, com todo o seu predicativo doobjecto, tomava a iniciativa. Estavam assim, na posição de primeira esegunda pessoas do singular.Ela era um perfeito agente da passiva; ele todo paroxítono, sentindo opronome do seu grande travessão forçando aquele hífen ainda singular.
Nisto a porta abriu-se repentinamente.
Era o verbo auxiliar do edifício. Ele tinha percebido tudo e entrou logo adar conjunções e adjectivos aos dois, os quais se encolheramgramaticalmente, cheios de preposições, locuções e exclamativas.Mas, ao ver aquele corpo jovem, numa acentuação tónica, ou melhor,subtónica, o verbo auxiliar logo diminuiu os seus advérbios e declarou a suavontade de se tornar particípio na história.

Os dois olharam-se; e viram que isso era preferível, a uma metáfora por todo o edifício.Que loucura, meu Deus!Aquilo não era nem comparativo. Era um superlativo absoluto. Foi-seaproximando dos dois, com aquela coisa maiúscula, com aquele predicativo dosujeito apontado aos seus objectos. Foi-se chegando cada vez mais perto,comparando o ditongo do substantivo ao seu tritongo e propondo claramenteuma mesóclise-a-trois.Só que, as condições eram estas:Enquanto abusava de um ditongo nasal, penetraria no gerúndio do substantivoe culminaria com um complemento verbal no artigo feminino.O substantivo, vendo que poderia transformar-se num artigo indefinido depoisdessa situação e pensando no seu infinitivo, resolveu colocar um ponto finalna história.

Agarrou o verbo auxiliar pelo seu conectivo, atirou-o pelajanela e voltou ao seu trema, cada vez mais fiel à língua portuguesa, com o artigo feminino colocado em conjunção coordenativa conclusiva.

34 comentários:

Xica disse...

Que giro. Confesso que já não me lembro de muita coisa de gramática, mas achei o máximo.
Aqui está solzinho. Nos últimos dias enquanto chove no centro e sul aqui no norte tem estado bom tempo. Podes sempre dar uma fugida a estas bandas.
Beijitos.

Mónica Lice disse...

Que original e super bem feito!

Beijinhos para ti!;-)

greentea disse...

bela liçao de gramatica, essa!!

beijinhos para ti

disse...

Engraçado sem dúvida alguma, merecido prémio!

Anónimo disse...

Muito bem ganho e bem merecido esse prémio. Fabuloso.

teresa.com disse...

fenomenal!

Belzebu disse...

Excelente minha amiga! Mereceu o prémio todinho! O jogo das palavras e mesmo de sons, está de grande nivel gramatical!!!

ehehh!! Saudações infernais!

dakidali disse...

Espectacular. Original e bem pensado.
Beijinhos

lince disse...

Estou gramaticalmente circunflexo com esta narrativa.
Agora deixa que te diga “ eu no lugar do sujeito também não alinharia na retórica do auxiliar “, eu até posso achar “girúndio” conjuntivo mas agora retórica na primeira pessoa... isso é que não!
Tá mesmo muito bom. Parabéns.
Bjs.

Hindy disse...

Fantástico e muito original...

Beijos :o)

Avó do Miau disse...

Espectacular! he he he he

vinte e dois disse...

E a versão Romeu e Julieta gramatical ;)

avelana disse...

achei imensa graça ao texto - bela liçao de gramatica.
bjinhos

Gracinha disse...

Girissimo...fenomenal!

Muitos beijinhos***

maresia_mar disse...

Olá
gostei bastante, sobretudo muito original e muito bem conseguido..
Bjhs com sabor a maresia e cheiro a S. Martinho

Fragmentos Betty Martins disse...

Querida Amigona

Nada como "em bom português"

É original que se farta:)))

Está o máximo!

Beijinhos com carinho

Aldina Duarte disse...

Muito obrigada! Agora reparo do quanto me ficou e escapou da gramática portuguesa!

Parabéns à autora!

Até sempre

Isabel disse...

Estranho. já escrevi uma coisa parecida... esse é muito bem escrito... belo e gramaticalmente correcto.


Um beijo especial para ti.

Isabel

Casemiro dos Plásticos disse...

Brilhante!

Miudaaa disse...

Super!!!
Divinal!!!

Um beijo da miudaaa

Unknown disse...

Que texto cativante. Muito bem feito.

Belo instante da vida.

Bom fim de semana

marinheiroaguadoce a navegar

Gracinha disse...

Bom fim-de-semana linda, beijo grande, diverte-te!

Pitanga Doce disse...

E no fim acabou tudo num superlativo analítico sintético. Oooooh! Uma coisa assim...!

Dois Rebentos (de Soja) disse...

Beijos e bom fim-de-semana

Alma Minha disse...

Excelente! Mereceu bem o prémio!
Bom fim de semana
Bjs

Bomboca light disse...

Muito bem conseguido!!!
Beijos

Anónimo disse...

:))) ta giro. Amigona, deixo-te um beijinho e desejo b f semana*

HelloCátia disse...

que giro... muito giro mesmo...
o blog ta mt giro


beijinhos grandes...fica bem...bom fim de semna

Anónimo disse...

DEliciosos de romantico! Beijinho, Lu

segurademim disse...

Senhores... isso é que foi dar voltas e mais voltas à gramática!!!

beijo . bom domingo :)

Cristina disse...

muito interessante..


beijinhos

Anónimo disse...

Boa semana, e boa segunda feira.

_+*Ælitis*+_ disse...

A primeira vez que eu li isto adorei, nao sabia que tinha sido uma aluna a escrever isto: e é normal que ela tenha ganho o que ganhou :) BEIJOS!

Margarida Silvestre disse...

Se esta fosse a nova gramática que estes estrangeirados nos querem impingir até aderia já.
Mas como já passei pela Gramática Generativa com toda a família dos sintagmas penso que a nova gramática é também para ir para o caixote do lixo.
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Não esta do encontro do substantivo masculino e do artigo bem feminino que até mais parece um perfumado adjectivo!
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Gostei!!! Lindo demais!!!

Bem ao contrário deste Nome Predicativo do Complemento Directo que anda fugídio mas não esquecido do lindo e perfumado adjectivo verbal da querida "Amigona"